Ajude-me a ver!



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O mundo de Deus!

Não quero apenas espiar as belezas do mundo.
Quero participar delas. Descobrir suas mágicas, 
suas realidades, seus caminhos, os altos e baixos, os velhos
e os novos contornos. O soberbo e o simples.
Quero saber onde ficam o mais perto e o mais longe.
Quero esquecer o que ficou para trás e vibrar com o que vem pela frente.


Quero estar no redemoinho do dia a dia, apreciar a dança das horas.
Quero contar quantos pingos de chuva cairão hoje no meu telhado.
Quantas flores desabrocharão hoje no meu jardim.
Quero admirar o canto do bem-te-vi madrugador empoleirado
no beiral da minha casa.

Quero ver o despontar da aurora, tão virgem como a brisa que nos acaricia.
Preciso estar presente hoje quando o sol descambar lá pras
bandos do oriente e envolver-me nas brumas da noite.
Procurarei admirar a caminhada do astro Rei, em direção ao nirvana, 
brincando de esconde esconde atrás das nuvens.

Ajude-me a ver!
Preciso ver de perto minha família, esposa, filhos e netos.
São preciosidades que ganhei de Deus, por sua infinita bondade.
Quero segurar a mãe calejada da minha mulher e balbuciar: venceremos!
Sei que nesse momento espiritual, as nossas lágrimas farão
parte do espetáculo só para nós dois!

Para meus filhos e netos quero desejar um porvir sem assombrações,
sem papa-figos, sem trancos nem barrancos. Quero injetar neles
as seivas da coragem e da felicidade, que guardei nas minhas gavetas.
Aos amigos e amigas quero agradecer  seu companheirismo
e generosidade.

Ajude-me a ver!
Quero alguém ao meu lado para olharmos o céu juntos.
Imaginarei o que existe lá dentro dele trancado a sete chaves,
com o sol por companheiro e a lua por testemunha.

Ontem pasmei com o espetáculo da lua cheia.
Tomara que esteja cheia de boas alvíssaras, de verdades,
de pureza e bênçãos para derramar sobre nossas cabeças.
Vi o céu coalhado de estrelinhas ensaiando um lindo
bailado para brindar os namorados.

Ajude-me a ver.
Não desejo apenas ver. Quero participar do arrebol.
Enxergar meus irmãos e irmãs na faina diária, fazendo e
acontecendo, botando o mundo nos eixos e
abrindo caminhos nos corações para o amor  se hospedar.

Quero aplaudir a procissão passar diante da minha porta cantando
o "Laudemus". Preciso apertar as mãos dos meus vizinhos
que me desejam "bom dia". E à noite, quando o véu da escuridão
apagar suas luzes imaginárias, quero agradecer a Deus por mais um dia.
Por mais uma jornada terminada. E por tudo que vi.
Pela oportunidade de ver o laborar das pessoas, colhendo os frutos
dos seus trabalhos, nos rodopios de suas emergias e alegrias.

Quero ver e tocar na criancinha que acabou de nascer,
afundada na fofura de um berço de esperanças.
Quero ver a luz do meio dia que clareia meu terraço.
E a escuridão da noite que nos envolve de luto;

Ajude-me a ver.
Quero ir ao shopping, para comprar coisas supérfluas que
fazem parte do nosso viver. Quero ir à feira, ouvir os feirantes
gritando para anunciar seus produtos.
Quero ver nos rostos dos vestibulandos a expectativa
de serem aprovados e de mãos dadas com o triunfo.
Quero contemplar a sauvinha carregando às costas um caroço de
milho, tão ágil como se fosse perder o trem do meio dia.

Quero olhar no espelho.
Ah! Esses espelhos que espelham as verdades nossas!
Que mostram com realidade os quilômetros que já percorri na vida.
Expondo as rugas que o tempo foi esculpindo no
meu rosto. Meus braços magros e minhas pernas já bambas,
impressionam-me a ponto de perguntar a Deus: "Por que"!

Ajude-me a ver 
A maravilha que é o mundo, com todas as mazelas, com
os desvios de rotas, com as alegrias das graças alcançadas.
Dos obstáculos superados.
Com as bênçãos dos bebês que nascem e prantear os que
partem para a vida eterna. Com o triunfo da liberdade
e ver a bondade de braços dados com o amor desfilando
pelas ruas da cidade onde moro.
Lembrando das vezes que perdoei e fui perdoado.
Dos amores que me desprezaram e dos outros que aliviaram
as ansiedades dos meus desejos. 
Quero ver a cor do amor nos corações apaixonados.

Ajude-me a ver!
O que não percebi. O que procurei e não encontrei.
O que queria e não tive. As ilusórias esperanças que o vento levou.
Ajude-me a me ver como sou.
Sem arrogâncias, ganâncias, preconceitos, medos, fobias.
Um ser humano ainda em formação!
Quando daqui partir deixarei muitos pés de saudades
que plantei  à esmo pelos caminhos por onde andei.
Quando olhar em volta quero enxergar o que ficou para trás e
admirar a renovação de cada dia e noite. 
A magia das aves canoras. Quero estar presente no acender e no
 apagar das luzes de cada
dia feericamente iluminado por Deus.
Ajude-me a ver o que sou incapaz de enxergar!
Quero ver mais coisas.
Coisas belas emocionantes, nervosas!

Autor Rivaldo Cavalcante

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