Que beijinho doce - Parte I



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      O beijo tem sido louvado, amado, praticado e cantado de muitas maneiras; por todas as pessoas dos cinco continentes.



      A canção popular fala do beijo assim: “Que beijinho doce que ela tem./ Depois que beijei ela/nunca mais amei ninguém!/ Que beijinho doce/ foi ela quem trouxe de longe pra mim./ Um abraço apertado/um suspiro dobrado/que amor sem fim!” O beijo se constitui forte elo de união, pois, não existe outra forma mais positiva, bela e sentimental  de testemunhar amor, do que através do beijo.


      Para as crianças os beijos são afagos divinos. Para os adolescentes, são tentações filosóficas. Para os jovens, são fontes de inspiração e portas para a entrada do amor (e às vezes do pecado). Para os adultos os beijos significam chamas do amor sem fronteiras. Para os anciãos, são carícias puras à moda antiga.


      Entretanto, a  magia do beijo tem complicado a vida de muita gente. O mais pérfido dos beijos foi o que marcou a traição de Jesus, pelo Seu discípulo Judas Iscariotis. Beijoqueiros e beijados estão por toda parte usufruindo as delícias desse néctar irresistível. Sou um beijoqueiro de carteirinha e não me permito a timidez de beijar uma mulher, quando posso fazê-lo.



      O ato de beijar é poderoso fenômeno sentimental que adocica a vida nossa de cada dia. É o quebra-gelo das antessalas, das alcovas, dos encontros fortuitos e o início de tudo. Os amantes só se dão por satisfeitos quando misturam beijos com amor e amor com beijos. Sem beijos não há felicidade. E sem felicidade não há beijos.



      Apesar de todo modernismo, atualmente beijamos muito mais, porém, amamos muito menos. Logo  ao nascermos somos profusamente beijados, como gatinhos de pelúcia. Beijar é dar testemunho de ternura, carinho, amor, respeito e consideração. A origem do beijo é remota.  Só por volta do século XV, o beijo apareceu socialmente; fascinando uns e intrigando outros temerosos de seu uso. Algumas culturas não aceitaram o beijo como saudação; contentando-se com apertos de mãos, vênias ou, simplesmente, levantando as mãos para se saudarem.



      Antigamente o beijo era praticado às escondidas, à meia-luz, por baixo dos panos ou atrás de cortinas, portas e até debaixo das camas. Modernamente se pratica o beijo a qualquer hora, lugar ou situação. O beijo deixou de ser uma “cúmplice contravenção social”, para se tornar um prazer, sem censura,  acessível a todos os adeptos desde que isto lhes agrade e não escandalize a moral pública. Os judeus, gregos e romanos da Antiguidade, beijavam-se respeitosa e reciprocamente nas faces. Os romanos descontraídos como sempre, beijavam não só familiares, mas o padre, os vizinhos, o padeiro, o jardineiro, o poste da esquina e tudo que lhes valesse um beijo.



      Os católicos beijam os anéis dos Bispos e do Papa e este beija, solenemente, o chão do país visitado pela primeira vez, como testemunho de carinho e respeito.



      De forma mais afoita o beijo ganhou terreno e seguiu seu vitorioso caminho, fazendo histórias e inspirando corações apaixonados. Insinuam que foi um maluco quem inventou o beijo. Mas os beijoqueiros rebatem tal injúria, afirmando que o inventor do beijo foi algum arlequim loucamente apaixonado por alguma colombina doida e solteirona. O beijo esquenta os corpos, as mentes e faz o coração exultar de alegria. O mandamento dos beijoqueiros é este: “Beijar sempre, com todo ardor d´alma e afeto do coração”.



      Homens árabes e russos se beijam que é uma beleza! Tornando-se adulto e descomprometido com os bons costumes, o beijo transpôs barreiras e derrubou tabus. Ninguém se reprime mais na hora de testemunhar amor através de uma gostosa beijoca. Para praticar o beijo não há contra indicações médicas.  Interessante é que apezar da sensualidade do beijos na hora h, os casais fecham os olhos para beijar. Que mania esquisita; beijar de olhos fechados!



      O mérito maior do beijo é aquele arrepiozinho que ele produz, que termina por anestesiar consciências, olhares e vontades, em santa comunhão de desejos e cumplicidades. O beijo por si só é um antídoto contra estresse, perturbações neuróticas, desenlaces passageiros, frescuras e paixonite mal correspondida. Se alguém está com vontade de morrer, basta beijar e ser beijado e o desejo desaparece por encanto. O beijo termina sendo um grande desafio fricoteiro.



      Há várias qualidades de beijos. Eles podem ser secos, rápidos, gostosos, sem-vergonha, exibicionistas, clandestinos,  rapidinhos, carinhosos, silenciosos, espertos, bobos, demorados, estrepitosos, molhados, ardentes, interesseiros, comprometedores, apáticos, sublimes ou vulgares. Alguns beijos são violentos, o que tem levado muitos beijoqueiros aos tribunais. O pior dos beijos é o beijo da morte. E o melhor de todos é o primeiro beijo; que geralmente todo mundo esquece, dia, hora, data e com quem. Tido como  irrecusável é o beijo “quero mais e mais e mais”. Este funciona como um imã. É versátil, funcional e preferido no mundo inteiro. O beijo roubado é um desafio e uma gostosura! O beijo universal é forte como uma reza milagrosa. Se todo mundo vivesse se beijando, não teríamos guerras,  nem fome, desemprego e miséria, nem balas perdidas.


      Crônica publicada no Jornal da Paraíba, dia 23-7-1992

Autor Rivaldo Cavalcante



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