Interessante
é que o inventor do beijo, esqueceu-se de patenteá-lo e deve está
perdendo uma fortuna incalculável em direitos autorais.
Quem afirmar que há restrições contra o beijo, pode acreditar
que é mentira. Beijar virou uma prática devassada para quem gosta
de uma das melhores coisas deste mundo. “Paz e amor”;
“Faça amor e não a guerra!” Daí pra frente o mundo
inteiro assumiu o beijo, como sendo uma cumplicidade capaz de selar
amizades e torná-las sagradas e perenes.
Dentro das
práticas humanas, o beijo dos idosos é o que mais ressonância
produz em seus corações. Eles sentem mais profundamente o
virtuosismo de beijar com ternura e amor. Os jovens julgam que
dominam todo encanto desses momentos sublimes, de doação mútua.
Por isso, quase que banalizam esta invenção milenar, sem
se darem contas de que existe neste ato, certa luminosidade que vai
além dos nossos sentidos, que só os corações generosos e
apaixonados sabem compreender. Beijo é coisa muito séria.
O beijo já
inspirou compositores, escultores, cineastas, escritores e amantes.
Melodias imortais ecoam pelo mundo afora, como “A Lenda do
Beijo”, uma das mais belas já produzidas; outras enaltecendo o
beijo que estão nas paradas de sucessos. O cinema notabilizou o
beijo sob todas as formas. Como o beijo horroroso de Drácula. As
novelas da televisão tornaram-no banal, devasso e atrevido. Um dos
beijos mais notáveis do cinema está no filme “E o Vento Levou”.
Referencial de perfeição artística e sentimental.
Mandamos
beijos para lugares distantes, de várias maneiras. Sempre que
termino uma carta, mando “Mil beijos”, ou “Um
beijão!”. Só não sei se quem recebe meu beijão sabe de que
tamanho ele é se os mil beijos que mando são guardados ou deletados
para sempre. Há beijos de “cortar coração”, como os que são
praticados nos velórios; quando os soldados vão para a guerra; nas
mudanças para longe; o último beijo entre casais que se separam. E
o beijinho que mamãe dá no filhote no primeiro dia de aula.
Há um gesto
carinhoso de mandar beijos, colocando-se os dedos da mão direita nos
lábios, como se se desejasse agarrar um beijinho com as pontas dos
dedos e lançá-lo no ar, ou soprá-lo sobre a palma da mão aberta,
em direção à pessoa amada. E lá se vai nosso beijo
ardente, lépido e fagueiro, cravar-se no saudoso coração
de quem parte; deixando saudoso um coração que fica!
O beijo está
massificado e para praticá-lo nem é preciso ser poliglota. Ele já
foi mais valorizado quando era comedido, astucioso, solene,
batalhado, roubado. Muitas mulheres – eternas beijoqueiras – na
hora de beijar preocupam-se mais com as maquilagens, penteados e
chapéus do que com a sublimidade do beijo. O beijo é como uma
semente boa; quanto mais regada mais exuberante se desenvolve! É
também provocativo. Provoca ciúmes, mortes, fricotes, prisões,
vexames, pressão alta, correrias, bate-boca e até cenas
hilariantes. A paz de um beijo bem beijado se confunde com a
doce música das esferas e nos transporta a alturas celestiais. Dizem
que lábios carnudos e avermelhados despertam o desejo de beijar.
Mas o beijo não é só louvação. Quando beijamos nossos batimentos cardíacos disparam de 70 para 150 pulsações por minuto, provocando verdadeiro incêndio amoroso nos nossos cérebros, incentivando a fabricação de hormônio chamado “Anfetamina do Amor”. Há quem acredite que o beijo ajuda a emagrecer, pelo consumo de calorias que queima. Outros analistas avaliam que os beijos ardentíssimos podem diminuir a vida em torno de três minutos. Já os aficionados pela ciência do beijo, afirmam que o beijo “prolonga a vida”, libera as emoções, aumentando a vitalidade do organismo: nessas horas o coração bombeia mais sangue, reduzindo-se os riscos de doenças circulatórias, da vesícula e do estômago. Por isso beijo até o vento.
Depois desta
síntese sobre o beijo, vale lembrar que o assunto não está
esgotado. O beijo pelo seu meritório valor unificante e pacificador,
merece páginas e mais páginas de comentários sobre sua atuação
no metabolismo das pessoas. Então, louvemos os beijos ardentes e
gostosos; para entronizarmos o amor nos nossos corações. Beije
você também. Não existe terapia melhor do que o beijo na boca
para curar hipocondria, chatice, mau humor, saudade,
preguiça, desentendimentos entre ela e ele, papai e mamãe, vovô e
vovó. Então, mando meu beijo sentimental para as mulheres.
Crônica
publicada no Jornal da Paraíba, dia 23-7-1992
Autor Rivaldo Cavalcante
0 comentários:
Postar um comentário
Agradecemos seu comentário!