Que beijinho doce - Parte II



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Interessante é que o inventor do beijo, esqueceu-se de patenteá-lo e deve está perdendo uma fortuna incalculável em direitos autorais. Quem afirmar que há restrições contra o beijo, pode acreditar que é mentira. Beijar virou uma prática devassada para quem gosta de uma das melhores coisas deste mundo.  “Paz e amor”; “Faça amor e não a guerra!” Daí pra frente o mundo inteiro assumiu o beijo, como sendo uma cumplicidade capaz de selar amizades e torná-las sagradas e perenes.

Dentro das práticas humanas, o beijo dos idosos é o que mais ressonância produz em seus corações. Eles sentem mais profundamente o virtuosismo de beijar com ternura e amor. Os jovens julgam que dominam todo encanto desses momentos sublimes, de doação mútua. Por isso,  quase que banalizam esta invenção milenar, sem se darem contas de que existe neste ato, certa luminosidade que vai além dos nossos sentidos, que só os corações generosos e apaixonados sabem compreender. Beijo é coisa muito séria.

O beijo já inspirou compositores, escultores, cineastas, escritores e amantes. Melodias imortais ecoam pelo mundo afora, como “A Lenda do Beijo”, uma das mais belas já produzidas; outras enaltecendo o beijo que estão nas paradas de sucessos. O cinema notabilizou o beijo sob todas as formas. Como o beijo horroroso de Drácula. As novelas da televisão tornaram-no banal, devasso e atrevido. Um dos beijos mais notáveis do cinema está no filme “E o Vento Levou”. Referencial de perfeição artística e sentimental.

Mandamos beijos para lugares distantes, de várias maneiras. Sempre que termino uma carta, mando “Mil beijos”, ou “Um beijão!”. Só não sei se quem recebe meu beijão sabe de que tamanho ele é se os mil beijos que mando são guardados ou deletados para sempre. Há beijos de “cortar coração”, como os que são praticados nos velórios; quando os soldados vão para a guerra; nas mudanças para longe; o último beijo entre casais que se separam. E o beijinho que mamãe dá no filhote no primeiro dia de aula.

Há um gesto carinhoso de mandar beijos, colocando-se os dedos da mão direita nos lábios, como se se desejasse agarrar um beijinho com as pontas dos dedos e lançá-lo no ar, ou soprá-lo sobre a palma da mão aberta, em direção à pessoa amada. E lá se vai nosso beijo ardente,  lépido e fagueiro, cravar-se no saudoso coração de quem  parte; deixando saudoso um coração que fica!

O beijo está massificado e para praticá-lo nem é preciso ser poliglota. Ele já foi mais valorizado quando era comedido, astucioso, solene, batalhado, roubado. Muitas mulheres – eternas beijoqueiras – na hora de beijar preocupam-se mais com as maquilagens, penteados e chapéus do que com a sublimidade do beijo. O beijo é como uma semente boa; quanto mais regada mais exuberante se desenvolve! É também provocativo. Provoca ciúmes, mortes, fricotes,  prisões, vexames, pressão alta, correrias, bate-boca e até cenas hilariantes. A paz de um beijo bem beijado se confunde com a doce música das esferas e nos transporta a alturas celestiais. Dizem que lábios carnudos e avermelhados despertam o desejo de beijar.

Mas o beijo não é só louvação. Quando beijamos nossos batimentos cardíacos disparam de 70 para 150 pulsações por minuto, provocando verdadeiro incêndio amoroso nos nossos cérebros, incentivando a fabricação de hormônio chamado “Anfetamina do Amor”. Há quem acredite que o beijo ajuda a emagrecer, pelo consumo de calorias que queima. Outros analistas avaliam que os beijos ardentíssimos podem diminuir a vida em torno de três minutos. Já os aficionados pela ciência do beijo, afirmam que o beijo “prolonga a vida”, libera as emoções, aumentando a vitalidade do organismo: nessas horas o coração bombeia mais sangue, reduzindo-se os riscos de doenças circulatórias, da vesícula e do estômago. Por isso beijo até o vento.

Depois desta síntese sobre o beijo, vale lembrar que o assunto não está esgotado. O beijo pelo seu meritório valor unificante e pacificador, merece páginas e mais páginas de comentários sobre sua atuação no metabolismo das pessoas. Então, louvemos os beijos ardentes e gostosos; para entronizarmos o amor nos nossos corações. Beije você também. Não existe terapia melhor do que o beijo na boca para  curar hipocondria, chatice, mau humor, saudade, preguiça, desentendimentos entre ela e ele, papai e mamãe, vovô e vovó. Então, mando meu beijo sentimental para as mulheres.

Crônica publicada no Jornal da Paraíba, dia 23-7-1992


Autor Rivaldo Cavalcante



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