Os Tangos da Velhice



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Abraçar a velhice, é apreciar que o disco da vida toque mais uns tangos

Já notou que os idosos são muito marcados, pelas especulações?
Uns são evitados. A maioria é a glória de um passado que teima em ficar.

Notou que os idosos não são idosos por vontade própria e sim pelo passar do tempo, dos anos? Pela conjuntura universal das reviravoltas que o mundo dá?
O mundo sem os idosos seria ôco, seria uma piada sem graça!

Eu daria 10 mil reais para não figurar na galeria dos velhos. Mas faço parte dela, com agradecimentos a Deus. Não estou arrependido de ser velho ou de ser considerado um trambolho, cheio de buracos para remendar, sorrisos e lágrimas para esbanjar e medicamentos para consumir.

Aprendi sozinho a gozar a vida com alegria de viver e como foi possível tirar proveitos dos anos que passaram por mim que nem notei sua velocidade.
Aprendi que não adianta retroceder e rememorar aqueles fagueiros e velhos tempos. Isso é inconformismo que nos desgasta.

É navegar na maré brava contra os desígnios de Deus!
Melhor mesmo é ser sincero com nossa consciência. Aceitar as alterações faciais, corporais, intelectuais, humorísticas que se processam durante o pelejar da nossa vida. Da relva queimada pelo calor do tempo. Dos pingos de chuvas que nos molharam. Das rugas que nos transfiguraram, dos conceitos trocados que fizemos entre os contrastes.

É bom ou ruim ser velho?
É uma experiência incomodatícia. Porque somos cercados por processos novos de ver e de analisar as coisas que nos cercam.

Os idosos têm idéias próprias de mensurar os conceitos e preceitos. Eles apreciam perorar, espiando a roda do mundo rodar; apreciando as pessoas indo e vindo, o sol dar o seu recado, a chuva atrapalhar os planos, o vento soprar arrogantemente nos nossos rostos.

Os idosos apreciam ver a prole desenvolver-se e ganhar o mundo. Gostam da paz de espírito, do silêncio e do aconchego familiar. Gostam de conhecer as novidades tecnológicas, mesmo quando não as entendam ou apreciem. Todos os velhos gostam de viajar que é uma beleza.

Gostam de dar palpites no que acham certo ou errado. Os idosos gostam de serem amados, consultados, ouvidos e paparicados.

Os idosos desconhecem as retóricas pomposas e gostam mais da simplicidade, da comodidade de algum aconchego. Não que sejam preguiçosos. Mas pela indolência própria da idade provecta.

Considero os idosos seres sobrenaturais que teimam em permanecer morando neste mundo; depois de terem emprestado suas forças, vigor, conhecimentos e inteligência para participar do seu feitio.

Olhando para trás, encontramos a grandiosidade deste glorioso Universo, forjado e esculpido pela inteligência não somente dos jovens, mas com a grande ajuda dos que deram adeus à juventude e aprenderam a ser idosos. Que mundo mais delicado e belo temos à nossa frente!
É exuberante obra do esforço humano de novos e velhos.

Vede os campanários, os oceanos, a fauna e a flora. Vede o esplendor da feitura humana, o desabrochar da vida de cada pessoa, o pulsar de milhares de corações em cada pedaço de chão. Enaltecei a magia da inteligência que brota do nada para o esplendor!
Vede nossos irmãos ou irmãs que moram ao nosso lado, grandes colaboradores do grandioso projeto de Deus, que é a vida. Que necessita da virilidade da juventude e mais ainda da inteligência dos idosos. Do amor e do carinho e experiências de todos.

Muitas pessoas pensam que idosos transformam-se em sucata, ferro velho que para nada servem mais. Alguns pensam até que eles são peças obsoletas e descartáveis no projeto miraculoso do Universo.

Mas, a maior vantagem de ser idoso é a sapiência que ele acumula, paulatinamente, durante os anos de vivência. No seu labor solenizado pelas vitórias conquistadas.

A escola do tempo é sensacional. Ela ensina como se deve viver, tanto aos moços como aos velhos. Cada qual com seus prazeres, achaques, preferências, alimentação, vestuário, palavreado, hábitos, sorrisos e hobbys praticados nas horas de lazer.

Há quem não aprecie os velhos, achando-os incapazes de raciocinar, de entabular uma conversa agradável com seus circunstantes. Isso, no entanto, é uma psicose sem pés nem cabeça. Os velhos são fluentes dentro do seu padrão de relacionamento. São categóricos, metódicos, honestos, experientes, solidários e adoram ser apreciados, como exceção da regra que enfeita e glorifica a beleza da mocidade.

O mundo atual está gerando muitos idosos, vigorosos demais, sábios demais amados demais, invejados demais. A fila de idosos está ficando mais comprida, já que o tempo de vida média dos brasileiros está em terno dos setenta e três anos de idade. O que dá aos candidatos à velhice uma certa folga, para aproveitar retalhos da vida, outrora impossíveis.

Dá tempo de ainda ouvir aquele dolente tango tocado na vitrola.
E quedar-se numa preguiçosa imaginando: "Como foi belo meu antigamente!".

Nunca sucateie um idoso. Antes de menosprezar, respeite-o. Pois cada pessoa tem seu jeito de ser jovem, maduro e idoso. Nesse patamar de vida nada é igual entre as pessoas. Umas são mais sadias e outras mais propensas às doenças. Umas são mais falantes e corajosas e outras retraídas e sisudas. Umas apreciam ficar num canto do terraço espiando as horas passarem; remoendo desgastadas lembranças do tempo de antanho. Enquanto outras não se dão por vencidas e são fofoqueiras, especulativas, passeadeiras, acuviteiras, engenhosas, leitoras e conselheiras. Que preferem fazer tricô a reviver o passado. Preferem a vibração de um sonoro bandolim aos queixumes do mundo!

Ser velho é ser tão jovem quanto se acredita ser!
Viver a velhice é como montar numa nuvem e passear pelo céu!

Autor Rivaldo Cavalcante

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