Cristo de Olhos Verdes



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De passagem pela estância balneária de Guarapari - ES - encontrei uma capelinha numa de suas ruas tranqüilas. Instintivamente entrei para uma visita muito especial a um amigo. Desejava apenas sentar-me e ficar absorto, com os pensamentos à deriva, já que a ocasião era oportuna naquele santuário repleto de inspirações e paz.

A capela estava vazia e silenciosa. Uma pequenina lâmpada vermelha iluminava o sacrário, avisando-nos da presença de Jesus. O silêncio vespertino era um lenitivo para o espírito. Recolhido naquele místico ambiente e entregue à minha proposital solidão, postei-me diante de uma imagem de Cristo, com mais de um metro de altura. Era uma imagem bem esculpida, que retratava um homem, de mais de trinta anos de idade, de porte elegante, altivez e doçura impressionantes.

Apaixonei-me de imediato pela sua figura meiga e me sentei à sua frente, de olhar fixo no seu rosto. Ocorreu-me à memória esta frase que li alhures, e a recitei com voz quase audível, como se desejasse que Ele a ouvisse. Afinal estávamos sós! “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância”. Contemplei-o por inteiro. Sua mão direita aberta estava marcada com gotículas de sangue. A mão esquerda pousava suavemente sobre o coração cingido com auréola, dando um recado claro. “Ali estava todo bem, todo amor e toda magnanimidade que o Pai tem para dar”. Seus pés descalços pousavam suavemente sobre nuvens.

Seus olhos verdes cintilavam com brilho fascinante. Nunca havia visto uma imagem de Cristode olhos verdes. Fitei-o e fiquei magnetizado pela meiguice daquele olhar complacente, que parecia dirigir-se para todos os lugares da capelinha ao mesmo tempo. Percebi naquelesolhos flamejantes um propósito moral, capaz de intimidar o mais insolente dos mortais. Esquecido do mundo comecei a rastrear sua existência, passando pela anunciação até chegar à vida adulta; pois envolvido como estava parecia que o tempo havia retroagido por milagre.

Lembrei-me que Jesus dividiu o calendário universal em duas etapas bem distintas para a humanidade: a Era antes de Cristo e  a Era depois de Cristo. Estabelecendo-se um parâmetro no imenso Livro do Universo, para que pudéssemos avaliar os intervalos, as épocas e os acontecimentos. Arrebatado, queria reviver o tempo de sua passagem por este mundo, no esplendor de sua vida adulta. Queria descobrir o que as pessoas da época achavam dele. Como era sua fisionomia. Seus laços familiares e sentimentais. Queria seguir seus passos pelas ruas de Jerusalém; visto como um profeta, à quem seus discípulos chamavam  Filho de Deus, criador do Céu e da Terra, que dava vista aos cegos, curava doentes, abençoava e surpreendia toda a região com os milagres que realizava.

Relatos dão contas de que a fisionomia de Jesus era de uma beleza incomparável. Revelava meiguice e austeridade ao mesmo tempo. Quem olhava para Ele se sentia obrigado a amá-lo e a temê-lo. Seu cabelo, dividido ao meio, caia-lhe até os ombros, em anéis reluzentes, emoldurando a fronte radiosa. Sua barba não muito espessa, era da cor dos cabelos. Seu olhar penetrante transmitia serena sensação de paz, que logo se espalhava sobre todos que o rodeavam. As pupilas pareciam cintilantes raios de sol, que atraiam os olhares. Ninguém conseguia fitar  seu rosto, sem sentir-se atraído pelo magnetismo que o cingia.

Cristo será lembrado como um homem belo. E tão belo quanto pode ser um ser humano! Seu porte físico era elegante e vigoroso. Presume-se que sua altura era de  um metro e oitenta centímetros e seu peso uns setenta e seis quilos. Não era obeso.  De gestos comedidos, aparecia em público com grande simplicidade, tornando-se logo amigos de todos, sempre afavelmente alegre. Falando ou operando maravilhas, Cristo era sóbrio e prudente, evitando os alardes do público. Ao falar para a multidão composta de Judeus provenientes de diferentes regiões, estes o escutavam em silêncio e com acentuado respeito. Nunca foi visto sorrindo, porém, várias vezes viram-no chorando.

Apesar de nunca ter freqüentado Faculdades, Cristo era o Senhor de todas as ciências e mesmo os mais eruditos sábios da época reconheciam nele dotes sobrenaturais. Notava-se na sua expressão divina, a sublimação de todo magnetismo que uma criatura pode possuir; sem que ninguém soubesse explicar tal fenômeno. A presença de Cristo era disputada por todos que o circundavam e seu carisma atraia multidões  a fim de ouvir as  parábolas. Quase todas as pessoas desejavam tocar suas vestes, que emanavam irradiações, com poderes sobrenaturais para curar moléstias. A assistência sentia-se bem na sua presença, pois, ao seu derredor emergia luz interior e elevado clima de paz.

A tez do homem Jesus Cristo era de tonalidade morena, porque caminhava de cabeça descoberta sob o sol causticante da região. Cristo nunca usou chapéus nem bonés. Andava quase descalço, usando apenas singelas alpercatas da época. Sua vestimenta era bem cuidada e combinava com seus traços delicados. Muitas pessoas ao verem aquele homem enigmático escarneciam dele. Mas quando se aproximavam, respeitavam-no e o admiravam. Havia no Cristo um “quê” diferente capaz de extasiar as multidões, que não resistiam ao seu convite, para ouvir suas doutrinações sobre a humildade, o amor e o perdão. Austero e ponderado, certa vez surpreendeu  mercadores fazendo do Templo uma casa de comércio. Tomado de incompreensível poder divino expulsou os vendilhões, da casa do Seu Pai. Mesmo repreendendo Ele o fazia com serenidade.

Cristo foi um homem versátil, equânime e casto. Não há notícias de que  tenha mantido algum laço sentimental com alguma senhorita do seu tempo. Não foi nenhum Ph.D. Nunca foi latifundiário nem dono de automóveis ou camelos Possuidor de carisma divino todos acreditavam Nele. Sua vida de notórios milagres e parábolas ainda hoje resplandece como se Ele próprio estivesse falando.

Nada se comenta sobre o jovem Jesus Cristo, entre 18 e 28 anos. Ficam as perguntas: Como Ele viveu todo esse tempo? Como foram suas visões do futuro, ansiedades, temores, birras, alegrias e decepções? Será que Cristo jovem sabia que era o Filho de Deus? Sabe-se apenas que Ele era submisso à Mãe Maria e ao seu pai adotivo José.

Jamais viverá na terra homem igual a Jesus de Nazaré. Mesmo assim, foi condenado por Pôncio Pilatos, com o mais ignominioso julgamento da História da Humanidade. No Calvário, onde morreu crucificado, colocaram sobre a cruz, por zombaria,  o título em três idiomas, hebraico, grego e latim: “JESUS DE NAZARÉ REI DOS JUDEUS”.

Que mundo magnífico, justo e pacífico seria este, se todos praticassem a maior exortação que Jesus Cristo nos legou:
“AMAI-VOS UNS AOS OUTROS, ASSIM COMO EU VOS AMEI!”

 Autor Rivaldo Cavalcante
(*) Crônica publicada no Jornal da Paraíba, em 03/03/90

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