Cadê Tempo?



0 comentários

O que é o tempo? É uma corrente infinita de segundos, minutos, horas, dias, semanas, meses, anos, décadas, séculos e milênios. Os rápidos minutos formam o labirinto do nosso precioso tempo! Um minutinho só, define o sucesso ou o fracasso; a vida ou a morte de alguém. Só o tempo nos dá noções do passado, presente e futuro.


No nosso peregrinar pela terra somos totalmente dependentes do minuto seguinte. Por isso, o tempo é tão importante nas nossas vidas e deve ser utilizado como a mais importante das bênçãos de que dispomos, na eterna e fugaz sucessão dos instantes.

Para nascermos não é preciso mais do que um pequenino lapso de tempo. A morte também não leva mais do que esse mesmo lapso de tempo, para nos arrebatar deste mundo. Sempre somos passados para trás pelo tempo. O tempo se encarrega de nos maquiar durante os períodos importantes da existência: infância, adolescência, juventude, maturidade e velhice. Ele nos transfigura pelo envelhecimento com uma arrogância de déspota; sem perguntar se estamos achando bom ou ruim. Tudo que empreendemos depende de mais ou menos tempo. Esgotado o prazo, nada mais podemos fazer ou reclamar; do que foi ou deixou de ser feito. Ao terminar de escrever esta crônica estarei 120 minutos mais velho.

O tempo é rotativo e gerencia  tudo ao nosso redor. É volátil como o éter e indiferente à nossas dores ou alegrias; não tem cheiro nem cor, mas é tão real como nossa respiração. Dias e noites se sucedem com precisão de anacoreta, sem nada que se interponha à essa contínua jornada. Por isso o tempo é sábio e cura feridas, tristezas e até saudades.

Temos que andar de braços dados com  ele como nosso companheiro inseparável. Há quem não tenha tempo para nada. Há também quem tenha tempo demais. O excesso de tempo termina sendo verdadeira tortura, pela ociosidade que gera. Já a falta de tempo acaba produzindo estresses e neuroses. Talvez não exista prêmio mais indesejável do que “tempo sobrando” ou “tempo faltando”. O segredo de aproveitar todas as aparas do tempo é administrá-lo bem. De uma forma ou de outra, estamos sempre correndo atrás dele. No entanto, há tempo para nascer, sonhar, plantar, florir, colher, desperdiçar, aprender, resistir às tentações. Há tempo de festejar, lamentar, enfrentar dificuldades, ensinar, perdoar, ser perdoado, amar, ser amado e de morrer.

Como patrão muito exigente o tempo ganha todas as paradas e funciona como um Banco Espiritual, que todas as manhãs nos credita, generosamente, l.440 minutos de renda extra, numa conta corrente imaginária, para serem usados como desejarmos. Ao fim do dia se alguns desses minutos foram desperdiçados, serão dados como “fundo perdido”. Pois, sua má administração invalida qualquer tentativa de adicioná-los à soma do dia seguinte. Cada minuto é único. Terminado um, segue-se outro novinho em folha.

O mundo eletrizante e eletrizado de hoje exige cada vez mais tempo, para saldar nossos compromissos e gerenciar o que nos diz respeito. Dizem que o melhor remédio para nossos males é o tempo; ele cura nossas  saudades, hipocondrias e  enjôos. O melhor remédio para nossos males e para as dores do mundo é o tempo; que funciona como antídoto, cicatrizando feridas, refazendo amizades, consertando erros, estimulando nossa solidariedade e permitindo que plantas e animais cresçam para nosso regalo e bem-estar. Só o tempo poderá abrir nossas mentes para as coisas extraordinárias deste mundo. Afirmam que o tempo faz com que as pessoas idosas sejam mais prudentes, previdentes e experientes, pois, o próprio tempo fê-las desenvolver essas faculdades soberbas. Enquanto a juventude é inexperiente, jocosa, alegre como o despertar da primavera.

As novas tecnologias encurtaram as distâncias, mas o tempo está cada vez mais escasso para percorrê-las. Não obstante nossa obsessão em busca de mais tempo disponível, ainda não aprendemos a racioná-lo e daí vem o seu desperdício. Acabamos justificando o injustificável: grande parte do nosso precioso tempo vai direto para a cesta de lixo. Existem alguns vícios que geram desperdício de tempo. Eis alguns deles: mania de perfeccionismo, distrações visuais, excesso de ruídos e de conversa-fiada, informações incompletas e atrasadas, negligência na metodologia do trabalho, estafa por trabalho repetitivo, reuniões desnecessárias ou mal programadas e conduzidas, tentar fazer muitas coisas ao mesmo tempo, tarefas inacabadas ou procrastinadas, preguiça compartilhada, indefinição na execução das tarefas prioritárias, interrupções constantes e não programadas, duração desnecessária de ligações telefônicas, êxtase contemplativo de coisas aleatórias, que leva as pessoas ao “mundo da lua”. E o maior inimigo do tempo: permanência exagerada diante dos aparelhos de televisão. Pensando bem, sobra tempo se soubermos utilizá-lo racionalmente nos pequenos como nos grandes afazeres. Há pessoas que aprenderam a “matar o tempo”. Só pessoas muito desprovidas de senso de responsabilidade matam o tempo. Elas o esbanjam nos bares, nas esquinas, vendo novelas pífias e filmes violentos ou nas quebradas da vida. Tempo não deve ser desperdiçado e sim utilizado com sabedoria. Sendo negligentes com  ele, nunca aprenderemos aquele idioma que nos fascina; ou completaremos a leitura da biografia de Leon Tolstoi; ou terminaremos aquele curso na Faculdade; ou teremos oportunidade de brincar com o netinho.

Há minutos que parecem horas e horas que se escoam tão rapidamente como os minutos. Em termos de eternidade, cada minuto que finda nada mais é do que uma ínfima fração de segundos, na escala insondável do tempo eterno. A eternidade nunca poderá ser monitorado; porque é eterna.

A Bíblia também alude ao tempo. “Todas as coisas têm seu tempo. Há tempo de amor e tempo de ódio. Há tempo de guerra e tempo de paz” (Ecles. 3, 1-8) O tempo molda, educa, amplia, faz nascer, faz morrer e nos torna participantes da História da vida. O tempo derrete as geleiras, aumenta o calor, retempera nosso ânimo, refaz as derrotas, prepara novas vitórias, melhora nossa conta bancária, dá-nos musculatura de atleta e nos torna  idosos e obsoletos.

O tempo é uma realidade invisível que nos acompanha como uma sombra. No atletismo é onde o tempo mais conta. Na Fórmula Um, na corrida de São Silvestre, nas grandes decisões de futebol e outras modalidades esportivas o tempo é ouro. As Olimpíadas são uma “apoteose ao tempo”. Num minutinho, pode-se passar de feliz ganhador a infeliz perdedor.

O termo TEMPO tem sido usado de muitas formas para definir períodos da história; tanto na literatura como no cinema. Ele permeia entre o “já era” e o “que será?” O Tempo e o Vento é a obra-prima do escritor brasileiro Érico Veríssimo. No Tempo do Onça é um filme interpretado pelos irmãos Marx, realizado em 1940. Tempos Modernos, é um filme lançado em 1936 por Charles Chaplin; que é uma profunda crítica da desumanização provocada pelo capitalismo industrial no século XX. Existem outras alusões  personificadas ao tempo, como: O Brasil de hoje vive o tempo das vacas magras. A Igreja Católica cultua o tempo através de sua liturgia: tempo para perdoar,  tempo da alegria natalina e  Pascal, tempo de penitência, tempo para orar e renovar. O futebol gira em torno do primeiro e do segundo tempos. Há aforismos engraçados, como: No tempo em que se amarrava cachorro com lingüiça; fechar o tempo, ganhar tempo, a tempo e a horas, nesse meio tempo, tempo nublado, tempo de brigadeiro, tempo brabo, dando tempo ao tempo, no meu tempo, matando o tempo! O tempo, sempre o tempo!

Existem alguns provérbios que falam do tempo: Tempo perdido não se recupera. Tempo de guerra, mentira como terra. O tempo tudo consome. Tempo é dinheiro.

Gostaria de escrever mais a respeito do TEMPO. Este benfeitor que faz crescer nossos bigodes, que torna belas as mulheres, que transforma filhos em pais, alunos em mestres, operários em patrões, analfabetos em sábios e botões em flores, para “adornar a noite do meu bem”...  mas, cadê tempo? Meu tempo neste mundo está terminando.

Autor Rivaldo Cavalcante
(*) Crônica publicada no Jornal da Paraíba - 17/ 08/ 1997

0 comentários:

Postar um comentário

Agradecemos seu comentário!

newer post older post